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Mansão do Caminho

Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 10 de agosto de 2023.

Foi um sonho premonitório!

Aos vinte anos de idade sonhei que me encontrava em uma linda fazenda, cercado por crianças felizes, que brincavam com algazarra ao lado de um senhor envelhecido. Eu sentia-me ditoso vendo aquela paisagem rica de júbilos.

Com alegria e curiosidade, acerquei-me do ancião e, ao fazê-lo, tive grande surpresa, pois que o idoso era eu próprio envelhecido.
Antes que eu dissesse qualquer coisa, ouvi uma suave e meiga voz que me disse claramente: – Este é o teu futuro. Educarás crianças durante toda a tua existência.

Assustado, despertei ainda ouvindo a algaravia infantil.

Fiquei um pouco aturdido, porque não era esse o meu plano de vida. Como qualquer cidadão, planejava organizar uma família biológica, viver conforme os padrões da época, desfrutar da madureza e da velhice, enfim, ser feliz conforme o conceito em torno da vida humana.

A vida, entretanto, havia desenhado um programa diferente.

O sonho impressionou-me profundamente e o narrei ao pequeno grupo de amigos queridos.

Eu era espírita e praticava a Doutrina dos Imortais, havia estudado as suas maravilhosas lições, mas não havia incluído qualquer tarefa dessa natureza.

Os impositivos existenciais foram-se materializando e no dia 15 de agosto de 1952 inauguramos, num edifício de três pisos, a Mansão do Caminho para educar crianças socialmente órfãs e mesmo sem família.

Foram aparecendo os “filhos”: um deles deixado na lata de lixo à porta da rua, outro que foi abandonado numa praça da cidade, outro mais dormindo na rua, chegando com a sua carga de aflição.

Em breve tempo estávamos com 96 crianças e um grupo de abnegadas “mães”, que ao longo do tempo se ofereceram para cuidar delas na nossa Casa.

À medida que os métodos educacionais foram aperfeiçoando-se, procuramos adaptar-nos, transformamos o “Orfanato” em lares-família e, por fim, em uma comunidade com residentes e frequentadores com famílias.

À medida que as necessidades surgiam, fomos atendendo-as e hoje aquele sonho é uma realidade. Estou com 96 anos, relativamente saudável, trabalhando conforme as condições que se apresentam, em uma “família” com três escolas fundamentais, uma de segundo grau, um ambulatório médico com gabinete dentário, laboratório de análises clínicas, uma creche com 180 bebês, um atendimento a 500 famílias de idosos e enfermos, uma casa de partos naturais, uma webtv e atividades espíritas públicas, um núcleo de psicoterapia para pacientes com 23 psicoterapeutas, 2 psiquiatras, grupo comunitário para crianças em risco social, havendo atendido neste período a mais de 130 mil crianças, hoje adultos, cidadãos úteis à humanidade.

Essa pequena cidade está localizada no Bairro de Pau da Lima, em Salvador, Bahia, para servir e amar.
Seguimos a recomendação de Jesus: Amar.