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Estoicismo

A Grécia estava em decadência e Atenas havia sofrido a terrível epidemia do cólera, bem como os frutos amargos da Guerra dos Trinta Anos com os persas, na qual Artaxerxes saíra vitorioso, no mesmo período quando os postulados filosóficos se encontravam em combalimento.

Nesse ínterim, Zênon de Cítio, comerciante devotado, sofreu o naufrágio de uma das suas embarcações e seguiu a Atenas em busca de uma vida pródiga.

Narra-se que, oportunamente, adentrou-se em uma livraria e, lendo algumas das obras, fascinou-se pelo pensamento de Sócrates, de Platão, de Aristóteles e sentiu-se inspirado a falar sobre o idealismo desses eminentes mestres. Como não dispunha de um local próprio, utilizou-se da Ágora, uma grande praça onde havia lugares para discussões de vário porte, e começou a lecionar a necessidade de um comportamento ético baseado na ataraxia (tranquilidade da alma) e, portanto, em três fundamentos básicos para consegui-la. Estes seriam a aceitação de que existe um princípio para tudo explicar no Universo, que, saindo do caos, transformou-se no Cosmo.

O segundo seria a certeza de que tudo quanto acontece tem uma causa anterior (Lei de Causa e Efeito), e, por fim, viver-se de acordo com as Leis Naturais, aquelas que se responsabilizam pela vida, pela ordem, pelo progresso.

Era um terrível período de indignidade, de corrupção e de desesperança, como ocorre periodicamente na atualidade do mundo.

A tese foi muito bem-aceita, e o estoico passou a ser o cidadão digno, corajoso, ético, respeitador das leis e da ordem, trabalhador do progresso e incapaz de desistir do bem.

Mais tarde, com a contínua degradação da Grécia, a Filosofia passou a Roma, que se encontrava em ascensão, e ficaram célebres as Catilinárias de Marco Cícero, em relação ao corrupto Catilina, na sua inconcebível ambição (“Até quando suportaremos Catilina”, teria dito).
Outros filósofos aderiram ao movimento, como Epícteto, escravo célebre, que convenceu Epafrodito e foi adotado por Marco Aurélio, o nobre imperador, que escreveu o seu diário, hoje conhecido como “Meditações”.

A sociedade hodierna parece haver perdido o sentido nobre da vida e, depois de haver passado por incontáveis escolas filosóficas na busca da felicidade, vive um existencialismo mórbido, no qual somente se possuem direitos a tudo, sem qualquer responsabilidade quanto às suas malvadas consequências.

A filosofia espírita igualmente estabelece princípios fundamentais para o encontro da plenitude do ser: o Universo foi criado por um Poder Infinito, pouco importando o nome que se lhe dê; leciona que todo efeito inteligente provém de uma Causa Inteligente e oferece a ética do Evangelho de Jesus para a vivência no mundo.

Vale, pois, a pena ser estoico.

Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 4 de maio de 2023.