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Cinzas…

Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 15 de fevereiro de 2024.

Chegou e passou a quarta-feira de cinzas…

Algumas religiões cristãs consideram que esse dia e seguintes devem ser dedicados ao arrependimento pelos abusos praticados no período do Carnaval.

Sem dúvida, não faltarão motivos para o arrependimento de muitos foliões que se entregaram aos excessos de toda sorte durante os festejos presididos pelo Rei Momo.

Desde longínquos tempos a sociedade terrestre reservava no seu calendário períodos para festas coletivas, celebrando vitórias no campo de batalha, comemorações de diversos portes, entregando-se à celebração do prazer exaustivo.

Com denominações especiais, os povos deixavam explodir nas ruas, praças e residências a alegria que alcançavam em estados aberrantes, com abusos de toda ordem, de modo a fazer a catarse dos imensos conflitos que os dominavam; crimes hediondos eram praticados e o saldo era sempre de horror. Com o nascimento do Cristianismo em Roma, especialmente as Saturnais foram combatidas, não deixando, porém, de ocorrer equivalentes extravagâncias, impostas pelos governantes com o fim de seduzir o povo submetido.

Foram organizando-se desde os bailes de máscaras de Veneza aos entrudos e outros, culminando no CARne NAda VALe.

Essa alegria aparente que toma conta das pessoas, quase sempre é resultado

de transtornos emocionais, frustrações, angústias recalcadas e substâncias ilícitas que produzem alteração da consciência, produzindo males incontáveis.

A promiscuidade que se permitem os indivíduos faculta a transmissão de doenças graves, tanto quanto os desconsertos morais e afetivos que são liberados levam ao desequilíbrio, transformando a grande bacanal num espetáculo de loucura.

As músicas ensurdecedoras, a gritaria infrene, os instintos açulados e os desejos avolumados transformam os foliões em marionetes das paixões inferiores.

Vivemos um momento em que os valores éticos, muito combatidos, cederam lugar ao desrespeito e à agressividade, caracterizando-se por transtornos emocionais que os retêm no pântano dos vícios e alguns na alienação.

A filosofia existencial tornou-se um joguete de lutas morais, liberando a pessoa de qualquer responsabilidade moral e mesmo social durante a sua jornada de insensatezes. Faz-se impositivo cuidados com o comportamento, porquanto a Vida sempre cobra os agravos que lhe são impostos.

Os indivíduos necessitamo-nos fraternamente uns dos outros com educação e respeito.

Somos os construtores do futuro e esse parece-nos sombrio em face da correria humana pelo exagero, intolerância e agressividade.

O Carnaval já passou e voltará logo mais, no entanto, os gozadores de ilusões arranjarão outros festejos, em perturbadora necessidade de encher o vazio existencial.