Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 14 de março de 2024.
Aconteceu de forma inesperada.
Eu me encontrava em férias com Nilson de Souza Pereira na cidade de Aracaju, como hóspede do Sr. e Sra. Ederlindo Sá Roriz.
Espírita militante, o querido amigo convidou-me para falar ao público que estaria na reunião doutrinária daquela noite, 27 de março de 1947.
Eu era médium desde então e costumava entrar em contacto com os Espíritos com facilidade. Nunca, porém, falara em público em circunstância nenhuma. Com gentileza, declinei da deferência. No entanto, o amigo, com muita habilidade, explicou-me que se trataria de uma conversa fraternal sobre o fenômeno mediúnico com os amigos que frequentavam aquela Federação. Seriam pessoas simples e em número reduzido.
Concordei com preocupação e meditei sobre uma página que houvera lido naquele dia na revista Reformador do mesmo mês, intitulada A Lenda da Guerra, ditada pelo Espírito Humberto de Campos ao médium Francisco Cândido Xavier e publicada pela Federação Espírita Brasileira.
Chegado o momento, estavam presentes 27 pessoas quando fui apresentado pelo presidente da nobre Instituição.
Eu contava 19 anos e estava visivelmente nervoso.
Após as palavras convencionais de referência ao público, expliquei que iria referir-me a essa mensagem de alto conteúdo moral e espiritual.
Sem saber explicar-me, esqueci-me completamente do seu conteúdo. Tentei uma, duas vezes, abordar a questão, sem lograr êxito.
Muito encabulado, pedi desculpas ao público, lamentando o meu esquecimento. Mas, nesse momento, vi adentrar-se na sala de pequenas dimensões um ser desencarnado simpático que me disse: – Eu sou Humberto de Campos. Falarei por ti e estarei sempre contigo.
De imediato, fui arrebatado e durante 40 minutos, mais ou menos, abordei o tema com bem oportunas considerações. Quando terminei, transpirando visivelmente em abundância, o auditório modesto prorrompeu em aplauso.
Ao término da reunião, o presidente perguntou-me se eu voltaria a falar no dia seguinte, e porque me houvesse sido fácil, aquiesci.
Foi aí que a minha existência passou a ter um significado feliz.
Sendo funcionário de uma autarquia (IPASE), cumpri os meus deveres sociais ao mesmo tempo que me dediquei à divulgação do Espiritismo, com absoluta gratuidade.
Passaram-se os anos e ontem (dia 27 de março de 2024), recordei-me de toda essa trajetória que me levou a 71 países dos 5 continentes, expondo o Evangelho de Jesus e os valores éticos que servem de base ao progresso da humanidade.
Agradeço a Deus haver-me guiado nessa longa trajetória em que ainda me encontro aos 96 anos de idade, vivendo e divulgando o amor, a caridade e os deveres da dignidade humana.
Também agradeço aos gentis leitores que me dão a honra de acompanhar-me nas páginas que escrevo neste órgão.
Artigo publicado em 27 de março de 2024.